quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013


VASOS QUEBRADOS 



Mirelle Ivy Diniz Miotto

De acordo com a Bíblia, nós somos um corpo onde habita uma alma e dentro da qual está o espírito do homem, que é o fôlego de vida que foi soprado por Deus e que nos mantém vivos. De acordo com essa divisão, o corpo representa a carne para a qual pende nossa alma, que é o lugar onde está nossa vontade. A alma também é chamada na Bíblia de coração e é aonde estão nossas emoções e sentimentos. A luta de Satanás é justamente para conquistar nossa alma, o que chamaremos aqui de homem exterior. Já o espírito do homem chamaremos de homem interior. 

Paulo escreveu em sua segunda epístola aos Coríntios que: “Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia” (4:16).  O Evangelho de Lucas traz uma oração feita por Maria ao escutar sua prima Isabel dizer, cheia do Espírito, que seria a mãe do Senhor, na qual ela diz: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador” (1:46-47). No livro de Hebreus também temos que: “Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (4:12). E mais: "E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Tessalonicenses 5:23). 

Notemos que a Bíblia menciona claramente a existência e diferenciação da alma e do espírito do homem, sendo que os dois podem, até mesmo serem dividos pela Palavra de Deus. Também sabemos que existe o Espírito Santo de Deus que quer vivificar o nosso homem interior de tal forma, que o nosso homem exterior (alma) seja governado pelo Espírito e não pela carne.

Antes de qualquer coisa, devemos entender o que não é ser governado pelo Espírito. Assim, surgem duas situações que devemos superá-las, se é que queremos ser verdadeiramente governados pelo Espírito Santo de Deus. 

A primeira delas: Vida espiritual não é ascetismo.

O que vem a ser ascetismo? De acordo com o dicionário trata-se de uma doutrina moral ou religiosa que consiste na prática de mortificações corporais e intensa atividade espiritual com a finalidade de alcançar perfeição moral. Infelizmente, muitos acham que o caminho da espiritualidade é o entrar dentro de uma caverna, ou subir para um monte e ficar dias, meses ou anos totalmente separado do mundo. É certo que não só podemos, como devemos buscar momentos de separação, para orar, buscar a Deus e fortalecer o nosso espírito, Jesus ficou 40 dias no deserto em jejum e oração. Mas ele foi impelido pelo Espírito de Deus e não por um desejo íntimo e pessoal de se tornar um gigante da espiritualidade. Não podemos cair na armadilha de tentar reprimir nossa alma, ou desprezar sua existência, muitas pessoas já falharam tentando este caminho. Pelo contrário, devemos buscar o fortalecimento do nosso espírito, de tal modo, que nossa alma seja ganha, salva e levada a servir com plena alegria. Jesus disse para tomarmos o seu jugo, que é leve e suave, nisto aprenderemos que nossa alma encontra seu maior valor em servir aos outros e não em se isolar dentro de uma redoma de vidro. 

A segunda situação a ser superada: A culpa não é dos outros.

Qualquer um que sirva o Senhor descobrirá, mais cedo ou mais tarde, que o maior impedimento para a Sua obra não são as outras pessoas, mas, ele mesmo. Isto acontece porque seu homem exterior está em total descompasso com o homem interior, enquanto Deus quer te levar para um lado, você está tentando fazer tudo do seu jeito. Na Epístola aos Romanos, capítulo 7, versículos 22 a 25, Paulo ensina que: “Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros. Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado.” 

Ou seja, quando Deus vem habitar em nós, através do seu Espírito, Ele se instala em nosso homem interior, ou seja, em nosso espírito. Acima do homem interior, no entanto, está a nossa alma (homem exterior) onde funcionam nossas emoções, pensamentos e nossa vontade. O corpo físico, sem a alma não serve para absolutamente nada, pois é apenas carne morta. Mas a alma sem o espírito também não serve para muita coisa, pois somente pode trabalhar para Deus aquele homem cuja alma é governada pelo Espírito Santo. Pois o homem interior tem prazer na Lei de Deus, mas os seus membros são prisioneiros da lei do pecado e da morte. Mas quem nos livrará desta morte? Assim, quando estamos tentando servir a Deus apenas pela alma, nós não conseguimos superar toda a oposição externa que se levanta contra nós. Pode ser que tenhamos uma alma forte (personalidade), mas esta alma forte somente poderá fazer com que superemos, na carne, a oposição natural que se levanta quando buscamos o serviço cristão. 

Assim, muita gente, dentro das “Igrejas”, está vivendo igual aqueles animais selvagens da África, que ficam em um lugar enquanto houver água e alimento, quando vem a seca ou o ambiente se torna muito hostil, eles juntam seus bandos e cruzam grandes distâncias até encontrar outro lugar, assim sucessivamente, até o fim de suas vidas. Muitos cristãos agem da mesma forma, ficam em um lugar enquanto o ambiente lhe for favorável e enquanto acharem que tem água e comida suficiente, no momento em que acham que não estão sendo devidamente valorizados, que não estão sendo devidamente alimentados, pegam suas coisas e partem, com seus bandos, para procurarem outras pastagens. O pior é que nunca vão encontrar lugar seguro, pois estão tentando servir ao Senhor somente na alma. Seu homem interior ainda não pôde ser liberado através do quebrantamento da alma. 

Devemos lembrar que Deus, quando chamou seu servo Moisés para conduzir Seu povo para fora do Egito apenas disse que os guiaria para a terra prometida. Eles não sabiam que iriam ficar quarenta anos no deserto. Se o soubessem, duvido que teriam saído do Egito. Quando estamos no deserto, se nosso homem interior não estiver em evidência, nosso homem exterior (alma) passa a murmurar e nada nos agrada. Mas o deserto é justamente o lugar onde aprendemos a ser quebrantados e a esperar somente no Senhor. Muitos devem ter culpado Moisés por todo aquele suposto “infortúnio” pelo qual estavam passando. Mas como nos livrar de sermos guiados pela nossa alma (homem exterior)? 

Temos a primeira dica nas palavras de Jesus, em João 12:24: “Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto.” Ora, todos sabemos que qualquer semente, para se transformar em uma árvore frutífera precisa ter sua casca (dura) quebrada. Enquanto a casca da semente não for rachada no interior do solo, o trigo não tem como brotar. De modo que a questão principal não é se existe vida dentro da semente, mas se a sua casca foi, ou não, rachada para que esta vida venha à tona. 

Mais uma vez, o próprio Jesus nos ensina o caminho para que o homem interior seja liberado para servirmos ao Senhor, ele diz no verso seguinte que: “Quem ama a sua vida (alma) perdê-la-á, e quem, neste mundo, aborrece a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna” (v. 25). A casca que impede que nosso homem interior possa crescer e produzir muito fruto é a nossa alma (vida), para que a vida interior se manifeste é imprescindível que a casca exterior seja quebrantada, rachada mesmo. Se amarmos nossa vida da alma mais do que a vida do espírito que Deus quer que vivamos, a Bíblia diz que iremos perdê-la. Ao contrário se abrirmos nosso coração para que brote a verdadeira vida espiritual, aí sim, teremos a graça da vida eterna. 

Assim, quando dizemos que precisamos ser quebrantados na presença do Senhor, não é uma simbologia, ou apenas um modo de falar, trata-se de uma realidade que precisamos não só conhecer, mas vivermos com toda intensidade. 

A Bíblia nos conta a história de que Jesus estando em Betânia, na casa de Simão, o leproso: “veio uma mulher que trazia um vaso de alabastro, com ungüento de nardo puro, de muito preço, e, quebrando o vaso, lho derramou sobre a cabeça. E alguns houve que em si mesmos se indignaram e disseram: Para que se fez este desperdício de ungüento? Porque podia vender-se por mais de trezentos dinheiros e dá-lo aos pobres”  (Marcos 14:3-5).

Ora, muitas pessoas ficam muito mais apegadas ao valor externo do vaso de alabastro (vaso de mármore onde se colocava perfume) pensando que seu valor é superior ao do seu conteúdo. A Bíblia diz que o nardo era puro, para que seja demonstrada a atitude puramente espiritual da mulher. Muitos ali acharam que o vaso deveria ser valorizado, em detrimento da atitude de verdadeira adoração feita por aquela mulher. Da mesma forma, muitos pensam que seu homem exterior é muito mais valioso do que o homem interior. Este é o grande problema, pessoas que valorizam por demais suas habilidades, sua inteligência e emoções, em detrimento daquilo que o Espírito Santo de Deus quer fazer através da liberação do nardo puro que está dentro de nós. Assim, muitos se engrandecem sobre os outros, acham que suas habilidades são superiores, que sua eloquência ultrapassa os demais, que seu julgamento e capacidade de ação são mais puros de que os dos outros. Enquanto nos considerarmos assim tão preciosos, a fragrância de Cristo jamais poderá fluir através de nossas vidas.

Por que, pois devemos considerar-nos tão preciosos, se nosso interior retém a fragrância, ao invés de liberá-la?

Sem quebrar o exterior, interior não surgirá. O Espírito Santo não cessou de operar. Cada operação disciplinar tem um só propósito: quebrar nosso homem exterior a fim de que nosso homem interior possa se manifestar. Aqui, porém está nossa dificuldade: ficamos impacientes por causa de qualquer problema, murmuramos diante de perdas de pequena monta. O Senhor está preparando um modo de usar-nos, mas mal a Sua mão nos tocou, sentimo-nos infelizes, até ao ponto de contendermos com Deus e de nos tornarmos negativos em nossas atitudes.

Desde que convertemos, fomos tocados várias vezes e de várias maneiras pelo Senhor, e tudo com o propósito de quebrar nosso homem exterior. Quer tenhamos consciência disto ou não, o alvo do Senhor é quebrar este homem exterior, é quebrar nossa casaca, é quebrar nosso eu. 

A Bíblia nos diz em 2 Coríntios, capítulo 4, versículo 7: “Temos, porém, esse tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós”. Desta maneira, o tesouro está no vaso de barro, mas se o vaso não for quebrado, quem poderá ver o tesouro que está dentro? Qual é o objetivo final da operação do Senhor em nossas vidas? É quebrar este vaso de barro, é quebrar nosso vaso de alabastro, é arrombar nossa casca. O Senhor anseia por achar um meio de abençoar o mundo através daqueles que pertencem a Ele. O quebrantamento é o caminho da benção, o caminho da fragrância, o caminho da frutificação, mas também é um caminho salpicado de sangue. Sim, há sangue de muitas feridas. Quando nos oferecermos ao Senhor para fazer a Sua obra não podemos nos dar ao luxo da morosidade de nos pouparmos. Devemos deixar que o Senhor rache totalmente nosso homem exterior, de modo que Ele possa achar um caminho para suas operações.

Cada um de nós deve descobrir para si mesmo qual é a mente do Senhor para sua vida. É um fato muitíssimo lamentável, que muitos não sabem qual é a mente, ou seja, a intenção do Senhor para suas vidas. Quanto mais precisam de que Ele abra os seus olhos, para ver que tudo quanto entra em suas vidas pode ter um significado. Entender o propósito do Senhor é ver muito claramente que Ele visa um único objetivo: o quebrantamento do homem exterior.

Muitas pessoas, no entanto, antes mesmo que o Senhor erga Sua mão, já estão aflitas. Minhas amadas, devemos reconhecer que todas as experiências, problemas e provações permitidos pelo Senhor são para o nosso bem supremo. Não podemos esperar que o Senhor nos dê coisas melhores (segundo nosso entendimento), pois estas são as melhores. Se alguém se aproximasse de Deus e orasse: “Ó Senhor, por favor, deixa-me escolher o melhor”. Creio que Ele lhe diria: “Aquilo que Eu te dei é o melhor, tuas provações diárias são para teu máximo proveito.” Assim, o motivo por detrás de toda a providência de Deus é quebrantar nosso homem exterior. Uma vez que isto ocorre, o espírito pode fluir ...

O caminho para a liberação da fragrância de Cristo é a cruz. Pois a cruz conduz o homem exterior à morte, racha a casca humana e faz brotar o perfume de Cristo. A cruz deve quebrar tudo que vem da alma, nossas opiniões, nossos modos de agir, nosso amor-próprio, ou seja, tudo que há em nós deve ser destruído na cruz. Lembremo-nos as Palavras de Jesus: “E qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:27). 

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